One Tree Hill, aquela menina de 13 anos e a escritora que não sabe nada
Divagações sobre a vida de escritora e a minha série favorita
O ano era 2003 e estreava a minha série favorita da vida nas manhãs do SBT. One Tree Hill. Sou viciada até hoje, mas a questão aqui não são os meus vícios. É sobre por que eu ainda gosto de assistir aquele bando de adolescentes dramáticos transicionando para a vida adulta?
No fim das contas é pelo mesmo motivo que eu comecei a escrever.
Aqueles adolescentes tinham sonhos aos dezessete anos e normalmente dava tudo errado. Gravidez inesperada, casamento no início da juventude, a vida real mostrando que não existem bons e maus (pessoas e momentos), apenas pessoas reais demais para a gente dar conta e muitos boletos.
Tinha aquela Brooke Davis que tinha sonhos claros de sucesso e quando os alcançou… descobriu o tédio de ter. Buscar é muito mais emocionante. Tinha aquela Haley, a nerd que provavelmente seria uma senadora no futuro ou uma cientista. No fim das contas se tornou mãe aos 17 anos e descobriu que o seu maior sonho era cantar.
Tinha o bad boy (acredite, você vai odiá-lo no início) que foi o melhor pai de família de todos. Sim, eu tenho meu favorito e ele se chama Nathan Scott. Tinha também o irmão dele, o bonzinho Lucas Scott, que conseguiu ser mais tóxico do que eu realmente me lembrava lá em 2003.
Tinha o maior vilão da série: Dan Scott. Se você assistiu, sabe que provavelmente me inspirei no narcisismo daquele ser fictício quando criei Dante Lucchesi. Ele era um pai horrível, ele era um homem que se morresse eu soltaria fogos. Uma festa não faria jus a sua morte, porque ninguém seria rico o bastante para bancar o fim dessa espécie.
Aí, ele morreu. E eu ainda choro como um bebê desamparado até hoje. Meu Deus eu sofri que nem uma desgraçada. Não teve fogos. Pedi um óbito e ganhei de brinde o arco de um personagem (muito ruim mesmo) que, sem eu ver como… me arrasou.
Dan Scott você me atropelou.
Ok, Colchero, mas onde estamos indo com esse papo?
Por acaso, me vi escrevendo personagens que tem muitas certezas no início da história e no final descobrem que não é nada daquilo. Já tive o advogado certinho que enfrenta carteis e viola 77 leis e certamente deveria ter finalizado a história preso. Tenho aquela moça que me veio a mente e, se respirasse errado, seria uma excelente vilã… Mas ela era a protagonista. Aqueles que tinham certeza que era mais fácil morrer, mas aí viram que a vida é legal. Temos aquelas que queriam viver tudo, mas entenderam que é um passo de cada vez. Às vezes nem é na direção que elas querem.
Enfim, o ponto é que aquele bando de adolescente ainda inspira as minhas histórias, porque no fim das contas eu também era uma adolescente em transição para a juventude, depois para a vida adulta.
Agora sou adulta, mas sigo aprendendo para chegar a algum canto.
Queria estudar Direito e ter uma linda carreira. No fim das contas eu era apenas a Brooke Davis com o ócio de ter. Ela largou a cidade grande e o glamour da moda e abriu uma loja de roupas na sua cidade natal. Só que aí ela descobriu que bebês são fofos e sua linha ampliou para roupas infantis.
De repente ela estava lá adotando uma adolescente.
Tudo mudava com uma constância gostosa naquela série. Foram nove anos e eles nunca paravam e apenas viviam suas vidas banais acolhendo mudanças que era fortes demais para não acontecer. Sempre tinha algo que não os deixava no ostracismo.
O casal MAIS PERFEITO DA VIDA, por exemplo, foi casado por todas as temporadas desde que decidiram ficar juntos. Hale e Nathan (Naley forever) simplesmente ficaram juntos até o fim da série. Na minha cabeça ainda vivem juntos, mas ainda assim eles sustentaram muitas temporadas sem que eu enjoasse. Casados e se amando, eles ainda tinham uma vida e sonhos que eram apenas deles, individualmente, não do casal. Mas aí eram um casal e precisavam considerar o outro. E tinha um filho, aquele que eles tiveram na adolescência. Viu, era simples, sem ser.
Um dia a gente tem 17 anos e tem que decidir o resto da nossa vida. No outro temos 28 e descobrimos que, talvez, não tínhamos maturidade o bastante para resolver algo tão definitivo. No outro temos 32 e entendemos que nem mesmo era definitivo.
Não morei em Tree Hill, estou aqui em Maricá no Rio de Janeiro, mas com certeza não sou a mesma da minha temporada 1 da vida. Inclusive nunca pensei em morar em Maricá. Nem sou a mesma da minha 2ª temporada. Meus personagens também são volúveis como eu, aprendem sobre seus próprios sonhos, aprendem sobre suas nuances e aceitam que todo mundo é o herói de alguém e o vilão de outro alguém.
Somos nossos próprios vilões, porque eu sentei comigo mesma e expliquei que achava que ia mudar a rota da minha vida profissional. Ia ser difícil para cacete, eu ia sair do conforto que a minha versão de 17 anos amava e se tudo der errado, ela vai me detestar. Mas ainda acho que será bom e eu serei a heroína dela.
Conto para vocês um dia.
Ok, mas ainda não sei onde você está indo Colchero?
Nem eu. Mas vamos, já diria minha Siena, estamos apenas buscando, não é? A questão aqui não é sobre estarmos indo a algum rumo, mas saber que não estamos presos nesse ponto das nossas vidas (se não quisermos). Aprendi em 2003 que é normal mudar, mas só mudei mesmo 20 anos depois.
Aceitei que, talvez, mude de profissão depois dos 30. E depois nunca mais mude.
Ou descubra que amo outras coisas também e que elas pagam as contas.
Que nem sempre vou escrever para chegar a algum lugar, nem mesmo agradar. Às vezes vou apenas escrever mesmo, quem sabe encontre algo antes do ponto final? No texto, na vida também.
Aceitei que sou mais introspectiva do que extrovertida, apesar de ter sido o contrário por mais da metade da minha vida.
Que os filhos que eu achei que teria antes do 30 foram adiados, porque eu ainda achava que era gravidez na adolescência (mesmo casando aos 28). Talvez meus filhos hipotéticos encontrem alguém bem resolvida agora depois dos 30. Ou ainda mais confusa, vai saber!
Um dia eu tinha 17 anos e achava que podia conquistar uma vida perfeita.
Hoje, eu acho que perfeito é continuar conquistando.
Não entendeu nada? Tudo bem, sou caótica também e, de algum modo, isso fez sentido para mim. Se fez para você também, talvez nós duas precisamos de ajuda terapêutica.
Ou a gente tá feliz mesmo.
Escrevi muitos livros que achei que não saberia terminar, ainda não tive os filhos que achei que iria querer.
Comprei uma casa que achei que era impossível, ainda não finalizei uma série de livros que achei que era mais possível
Dizia não gostar de gatos, mas meu eu de agora não vive sem aquela coisa fofa.
Achei que amaria viajar, mas me dê uma rede na varanda e um kindle e eu serei tão feliz quanto seria com a mala na mão.
Achei que seria a Bacharel em Direito mais feliz da vida, mas sou uma escritora mais feliz ainda.
Um dia eu tinha 17 anos e achava que sabia das coisas.
Aos 34, eu sei que ainda busco algum conhecimento.
Aquela série dos anos 2000 me parece tão mais legal agora do que antes.
A minha vida também.
No final das contas, eu acho que somos todos personagens da série da nossa vida e com muitas temporadas. Ninguém chega na season finale como estava na primeira.
Talvez eu apenas esteja muito reflexiva nesse hiatus entre livros, mas eu sou assim em tempo integral. Apenas estou abrindo a frestinha para vocês. Pode me desbravar se quiser, ou não.
Acho que vai ser ainda mais divertido para você se desbravar também.
Ps: Não chegamos a conclusão nenhuma. Ainda bem.
Chorei demais, talvez eu tenha problemas kkkk (Amando estar aqui).
acho preocupante eu ler absolutamente tudo que você escreve e ainda admirar, por favor nunca pare. mas vou levar essa questão pra terapia vai que vira hiperfoco